terça-feira, 15 de outubro de 2013

Insônia.

Ela não conseguia dormir, já passava das duas da manhã. Na varanda, entregou seu pensamento às luzes que fagulhavam delicadamente seus olhos. Pensava longe, intensamente. Imaginava as vidas agora quietas, mas tão logo, à aurora, despertas. Indagava curiosamente o sentido daquilo tudo. Seguia as luzes da cidade, esse mar de gente... tentava adivinhar os sonhos de cada um que dormia. Atmosfera estranha, inverso do dia a dia. Silêncio. Silenciosamente intrigante. Não condizia com todo o barulho que dentro dela lhe estremecia os sentidos.

Ali parada, as lágrimas escorriam dos olhos, lavando a face que à luz do dia, na rotina, no espelho já não conhecia. Sentia desejo de voar, de flutuar sobre sua própria vida, acompanhando a dança das luzes silenciosas da cidade. Queria ser leve. Agora adivinhava os próprios sonhos, adormeceu por dentro, mas só por dentro. Sonhos trancados e que deveriam ser soltos ao vento. Vento que tocava suavemente seu rosto. Não tinha respostas, nada de certezas. As lágrimas embaçavam sua visão já turva pela miopia, e faziam parecer que as luzes aumentavam e iam em sua direção, como sinais de fogo. Fogo envolvente, energizante, que lhe convidava a dançar.

Estremeceu mais uma vez, e soluçou. O medo e o vazio lhe apertavam, mas em sua dança lutava para libertar ao vento seus sonhos costurados com fios de seda, flutuantes, ao mesmo tempo fortes e ingênuos, e que lhe agraciavam por sua singeleza. Um suave sopro gelado da madrugada a fez suspirar. Quase amanhecia. Sentiu-se acolhida em sua cama macia e quente, lembrava o fogo. Sabia que o alvorecer lhe traria possivelmente a desatenção, a inércia ou a confusão. Mas ela não desistia, e sabia que nada é sempre igual. Suas cúmplices madrugadas lhe ofereciam um sopro de mudança. Acordou cansada, e com uma incrível vontade de ser!

3 comentários:

  1. Impressiona-me a facilidade que tens de passear pelo mundo da poesia e sair de lá com uma braçada de palavras enfeitadas de flores.
    Existem textos que não me atrevo a interpretar, apenas sentir. Os teus são assim... apenas ler, admirar, e muitas vezes se ver ali numa frase ou outra, num contexto, num ângulo qualquer ou então na história toda. De tão bem que traças os meandros da vida...
    Ficam sorrisos e estrelas enfeitando teu olhar,
    Helena

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  2. "Acordou cansada, e com uma incrível vontade de ser!"

    É a frase com que nos relançamos no sonho de ser e de que só, ao acordar, temos consciência.

    Gosto!

    Beijo

    Laura

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