terça-feira, 19 de novembro de 2013

E as luzes de Natal...

Eis que "o Natal vem vindo, vem vindo o Natal" e lá vem esse caminhão de refrigerante mais um ano. Um caminhão não, quatro! Além do carro da frente com o Papai Noel. Estava com meus sobrinhos na casa da minha mãe quando os vi da varanda, e claro que o pequenino (de quatro anos) quis descer para ver aquelas luzes estacionadas com toda aquela música envolvente e o velhinho gordinho (não tão gordinho este ano). E lá fomos nós, meu pai com o pequenino à frente, já o entregando para o Papai Noel, e eu levei o mais velho também (de 9 anos), que não queria ir porque disse "ah, besteira, isso não existe, é só um refrigerante". Mas eu lhe disse: "então vamos com um olhar sociológico, no caminho te explico o que é isso". E foi aquele papo de que é uma grande empresa, um líquido nojento que faz mal à saúde (tá, você pode gostar, mas eu realmente odeio), uma venda absurda de sonhos enlatados, e que o Natal significa outra coisa... acho que ele entendeu.

É fato que aquele fuzuê desperta curiosidades sim, é bonito, eu pelo menos adoro luzes. E as pessoas iam se aproximando (não apenas as que estavam com crianças - todas estas encantadas) e tiravam fotos. Percebi um homem caminhando em meio a tudo aquilo, carregando seu carrinho de feira abarrotado de sacolas e panos e tralhas, cabeça baixa. Logo pensei "coitado, nem percebe o que está acontecendo, deve ter muitas preocupações na cabeça". Aí eu quebro a cara, pois ele também para. "Estaciona" seu carrinho rente ao muro e observa, imóvel, todo aquele movimento. Imediatamente peguei meu celular e registrei o momento, e não consigo parar de olhar essa foto. E não consigo parar de imaginar no que será que esse homem estava pensando enquanto olhava fixamente. Durou alguns minutos.

Será que pensava na possibilidade de fazer um "bico" como Papai Noel?

Será que pensava em como seus filhos ou netos gostariam de ver aquilo?

Será que "viajou" para um outro mundo só para esquecer um pouquinho os problemas?

Será que apenas admirava? Ou achava tudo aquilo uma bobagem?

Ou será que diante dos caminhões nomeados "Sorrisos", "Esperança", "Felicidade" e "Amor", ele nada via fazer sentido?

Vai ver é isso, vai ver ele apenas tinha sede e pensava que seria bom naquele calor ele tomar uma latinha daquelas, já que há coisas muito piores que lhe fazem mal à saúde.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Furacão - parte II

Nada no lugar. Nem ideias, nem vontades, nem convicções, nem mesmo dúvidas.

Não há paredes que escorem as certezas que insistem em cair.

Não há chão que sustente o peso dos desejos.

No olho desse furacão tudo se esvaiu.

Até as palavras misturaram-se ao redemoinho dos ventos e ora me abandonam, ora recaem sobre mim como entulhos cortantes e desorganizados.

Nada no lugar, a não ser o estalar do tempo que pressiona o vazio pontualmente presente.

E nesse tic tac irritantemente constante tento me reorganizar.

Imagem: Salvador Dalí.