quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Leve.

Tirar a bolsa dos ombros ao fim do dia. Suspirar. Pensar novamente no peso do amanhã. E então dormir. Às vezes não. Porque a dura casca que se formou não nos permite encontrar posição. Dureza, acidez, disfarce de sensatez. Controle do tempo que descontrola o bom senso. Dorme sem descansar, levanta sem despertar.
Frequentemente me pego pensando nos contornos da vida adulta. Decisões, responsabilidades, preocupações... pode ser muito pesado. Pode ser. Pode. Mas como as pessoas confundem seriedade com sisudez! Como se tenta impor desde tão cedo a necessidade (pra quem?) de uma “postura responsável”! O problema é quando essa responsabilidade mais aprisiona do que frutifica. Não se pode achar, por exemplo, que uma criança com seus apenas oito anos, por ser matriculada em mil atividades, irá ter um desenvolvimento pleno. (Mas isso, relativo às crianças, é pano pra muita manga depois). Voltemos a nós, adultos. Nós que experimentamos a angústia, a insatisfação, o vazio. E tentamos preencher, às vezes em vão. Nós nos esquecemos de dar risadas até cair no chão, ou até quase querer fazer xixi, esquecemo-nos de dançar livre e espontaneamente, de se lambuzar de sorvete, de girar feito pião. Nós deixamos de nos surpreender, e tudo se torna banal, e a gente reclama do tédio. E a gente reclama!
Amélie Poulain: minha inspiração sempre!
Não acho que devemos sair saltitando com as borboletas em campos floridos todos os dias, mas posar de senhor(a) da maturidade é armadilha carrancuda! Não tenho medo de me empolgar com uma música, de fazer palhaçada até me mandarem parar, de pedir o colo das amigas regado a brigadeiro, não tenho medo de pagar mico. Não deixo de ser séria por isso. Séria no sentido de ser responsável pela minha vida, no sentido de saber ouvir e aconselhar a quem precisa (e até que me solicitam bastante). Ainda tenho muito que aprender com a minha criança, mas cada vez mais percebo que a maturidade é saber resgatar o que há de bom em cada fase, porque o que fica pra trás é o momento que vivemos, e não aquilo que somos em virtude dele. A criança não morre, silencia. Mas é possível e extremamente necessário acordá-la para que ela nos ensine o quão engrandecedor é ser leve e se surpreender com a vida.

2 comentários:

  1. Aplausos! gostei muito mesmo do seu jeito de escrever. Maturidade é saber resgatar o que há de bom em cada fase.É isso aí.Parabéns.Abração!

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    1. muito obrigada Diana! volte sempre aqui, será um prazer!

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