terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Flamenco, minha paixão!

Lembro-me bem do momento em que aguardava começar a minha aula de ballet (havia voltado a fazer para me exercitar). Olhei pelo vidro para aquela sala em que mãos e pés, olhares e expressões revezavam força e suavidade, seriedade, leveza e sensualidade, seguindo o ritmo da música com corpo e alma. Uma música que conseguiu me fazer balançar mais que pés e ombros (aquele gesto que a gente faz displicentemente quando ouve uma música ou assiste a uma dança que nos agrada). Acho que tocou bem lá no fundo logo de cara. E a professora deve ter percebido, me convidou para experimentar uma aula. Eu fui, e há quatro anos e meio eu tento me construir como bailaora, como costumamos nomear. Uma construção dia a dia, com alegrias e dificuldades, medos e vontades, mas, sobretudo, com muita paixão.

A primeira vez que uma professora me pediu para substituí-la foi um susto! Uma mistura de sensações de reconhecimento e medo. Seria eu capaz? Ela disse que sim. No fim, deu tudo certo. E toda essa confiança depositada pelas duas professoras foi crescendo, até eu passar a ser monitora e posteriormente professora da escola Alma Andaluza.

Hoje sei que posso muito mais do que penso. Choro porque se aproxima o dia em que as minhas primeiras menininhas subirão ao palco (meu coração precisa aguentar!). É muito mais do que a sensação de dever cumprido enquanto professora! É o resultado de muita dedicação, de uma luta contra o senso comum de que eu preciso “ter uma profissão” e que isso é “só lazer”. Eu adoro estudar e já me dediquei muito até o mestrado, mas dei um tempo, uma pausa, para me dedicar agora a crescer profissionalmente na dança. E mesmo que essa não seja a minha única ocupação na vida, eu a levo muito a sério (levo a sério, levo à base da alegria, da satisfação, da paixão...).

Muitas pessoas me conhecem bem e partilharam comigo as angústias, aflições, e desejos que me rodearam este ano quanto à identificação e à realização profissional, e por isso sabem o que é, para mim, falar da dança com todo meu coração, sabem o que é a expectativa do espetáculo de encerramento do ano da escola. E é sempre, para todos que estamos ali, um misto de dor e prazer. Muita gente dando de si mais do que podem para que tudo fique maravilhoso, para que a gente sinta que vale a pena lutar pela arte, ainda que desvalorizada por muitos. Para que a gente sinta que é divino fazer o que se gosta. Quase transcendental!

Dançar na companhia de pessoas que amam tanto o Flamenco deixa tudo sempre leve, traz uma alegria imensa ao meu coração. Dividimos técnicas, sonhos, palco e emoção. E para quem vê de fora e não conhece, digo que só experimentando (fazer ou assistir de coração aberto) para entender que todas aquelas caras e bocas, todos aqueles movimentos e pausas fluem naturalmente dos sentimentos intensamente ali vividos, muito além da técnica. É alma entregue à paixão!

Meus sinceros e insuficientes agradecimentos às minhas alunas, minhas amigas de aulas e minhas professoras Ivna Messina e Giselle Ferreira que permitem todo esse sentimento vir à tona!

Sara Baras no filme Flamenco Flamenco, de Carlos Saura.

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