quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Perdoar-se.

O sentimento exacerbado de nostalgia às vezes pode ser uma grande culpa carregada com correntes que nos amarram e nos impedem de ir à frente. É necessário que o olhar para o passado seja apenas de consciência pela etapa cumprida, e não de arrependimento. Podemos achar que foi pouco, que foi errado, que poderíamos ter feito diferente. Mas foi assim, e já foi. E cada pedaço faz parte da nossa história, que tem que continuar.
Abrir aquela caixa de imagens não foi fácil para mim naquele dia. Fazia muito tempo que não revirara sentimentos tão intensamente. Nem mesmo me dei conta de que todas elas estavam tão vivas em minha mente e em minha alma, acessadas a qualquer tempo. Bastou um pequeno pedaço de papel para tudo vir à tona. Segurei a mão de todas elas, que me olhavam com um misto de saudade e admiração. Eu não entendia. Talvez elas quisessem me dizer alguma coisa, mas eu apenas chorava. Doía. Todas aquelas meninas e jovens carregavam consigo uma flor, uma cor, um sorriso. Mesmo a mais cinza me mostrava em suas mãos pétalas ainda bem perfumadas. Olhar nos olhos de cada uma delas foi confuso, dolorido, mas ao mesmo tempo instigante. Era como se eu lhes devesse algo, como se eu lhes houvesse outrora furtado sonhos. A sensação da culpa e da dívida me corroía, e nessa hora parei de lhes encarar. Chorei mais uma vez. Foram necessárias algumas horas em silêncio, nos olhando, para que eu entendesse que aquelas cores ainda estavam vivas, que aquelas flores eram para mim, para que eu aceitasse aqueles sorrisos. Era isso que queriam me dizer, que eu precisava desse entendimento para continuar. Talvez eu confunda a saudade com a culpa. Talvez eu queira voltar o tempo e corrigir os erros. Talvez eu queira dar a elas uma nova chance. Tocar aquelas imagens tão vivas é difícil, acessar cada lembrança é dolorido. Pode ser que a dor demore a passar, pode ser que a saudade ainda aperte. Pode ser que ainda seja difícil abrir aquela caixa. Pode ser que eu chore. Mas elas levaram embora a culpa, e sem ela comecei a entender que era eu quem estava ganhando uma nova chance. Sou eu agora que devo escolher as minhas cores, sou eu agora que carregarei a minha flor. Talvez eu plante um girassol.

4 comentários:


  1. Carrega-se a causa e a consequência, que vai desfazendo quem sente e não tem a força de se olhar.

    Beijo

    Laura

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  2. Estou na fila das amigas para ajudar a regar o girassol...te amoooo amigaaaa...bjãozão

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  3. O sentimento de culpa - herança da cultura judaico-cristã - é avassalador, e não poucas vezes aniquila esperanças. Contudo, há sempre o outro lado, o do perdão, a ponte para novo recomeço.
    A vida é feita de recomeços, sabia?

    Beijo :)

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