segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Colecionadores de pedras.

Havia um louco que colecionava vários tipos de pedras. De algumas, ele não desgrudava, e às vezes escondia para que ninguém as visse, mas em certos momentos elas lhe incomodavam em seus bolsos. Outras, ele atirava numa correnteza que as levava para bem longe, e sentia então o alívio e a leveza de um dever cumprido. Algumas pedras ele entregava como presente, grandes, polidas, como se fossem preciosas, ainda que não lhe dessem o menor valor, ainda que rissem dele. Restaram-lhe as menores, tão opacas, rachadas, corroídas pelo tempo. Estas ele atirava, uma por uma, nas pessoas que por ali passavam, nas pessoas que ora lhe zombavam, ora lhe ofereciam ajuda, ora lhe interrogavam, ora lhe diziam sermões. Apesar de tão pequenas, essas doíam. Mas o pior é que voltavam e ele se via novamente com sacos e sacos de pedra. Acho que ele mesmo as catava do chão.
Esse louco sou eu. Ou pode ser você. Quantas ideias, pensamentos, vontades, palavras não ditas, gestos descumpridos, afetos não vividos, mágoas descabidas nós colecionamos? Juntam-se como sacos de pedras que nos pesam as costas. Algumas podem ser escondidas, mas cedo ou tarde vão nos incomodar, outras podem ser cuidadosamente polidas e entregues, antes que seja tarde. Umas devem ser atiradas à correnteza para que a vida siga seu curso. Mas aquelas que atiramos nos outros, essas podem voltar para nós ainda mais numerosas. O melhor é esvaziarmos esses sacos o quanto antes, e não colecionar as pedras que não valem.

2 comentários:

  1. Parabéns escreveu um belo texto à volta de
    pedras e com conteúdo bem profundo e sugestivo.
    Adorei, Eu também ao longo da vida colecionei
    muitas pedras e de algums já me desfiz.È a vida.
    Bj.
    Irene Alves

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  2. Gostei muito do texto! Já me desfiz de muitas. Agora coleciono só as que me atiram.

    Beijo

    Laura

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